Como a era digital criou a eleição mais polarizada do Brasil?

Neste ano de 2022 nós teremos a 23ª eleição direta no Brasil. E, diferente das outras edições, esta, mais do que nunca, está marcada por uma influência direta da era digital. Muito mais do que o último pleito.

Longe de termos uma Cambridge Analytica aqui no Brasil, a polarização está sendo reforçada por uma lista de três tópicos que vamos explorar mais aqui embaixo. Independente do seu lado da balança, vem com a gente que explicamos melhor:

ANTES DE COMEÇARMOS. 

Temos uma recomendação de leitura sobre o tema e ela influenciou bastante a escrita deste texto.

Livro: OS QUATRO

Autor: Scott Galloway

AGORA VAMOS LÁ:

1. “ESTÃO OUVINDO A GENTE!”

Todo mundo já falou ou já ouviu alguém falar isso. Na verdade eles não estão ouvindo, não diretamente pelo menos (Vamos explorar esse tema em outro texto). Isso tudo são dados de comportamento e localização que você está enviando a partir do seu celular para o famoso ALGORITMO.

Todo mundo sabe que as grandes empresas, principalmente as de mídias sociais, como Meta (facebook e instagram) e Tiktok tem algoritmos que conseguem capturar nossos gostos e padrões de comportamento para nos mostrar exatamente o conteúdo que queremos ver.

Agora, pense um pouquinho:
Por que isso acontece? 

Simples. Porque é mais barato!

As empresas de mídias sociais ganham dinheiro vendendo espaços publicitários e dados de comportamento para empresas. Em contrapartida o maior custo deles é o de distribuição de todos os conteúdos, pagos ou não, para as pessoas.

Se você está num dilema mortal entre pedir uma pizza ou um lanche, a mídia social terá mais trabalho de te convencer entre um ou outro, pois ela precisará usar mais conteúdos para que você finalmente faça sua escolha. 

Na política isso não é diferente. Se você é uma pessoa em cima do muro, as mídias sociais não se darão ao trabalho de ficar te convencendo. Agora, caso você tenha uma leve inclinação para um dos dois lados, prepare-se para pular de vez para ele. Pois será mais rentável para as plataformas, já que os anúncios atingirão o público certo e serão mais convertidos, fazendo com que mais empresas coloquem mais dinheiro nas plataformas. 

2. CADA UM NO SEU QUADRADO

Você agora está imerso no mundo da sua opção política. Vê vídeos, posts, carrossel, links no Google (orgânicos e pagos), enfim. Vira um consumidor feroz de conteúdos da sua opção. No meio deste processo, você esqueceu de uma coisa. Onde está o outro lado? 

Uma pesquisa do PorderData (link aqui) de Outubro de 2021 constatou que 45% dos brasileiros gasta entre 1 e 5 horas por dia nas mídias sociais e 35% passa até uma hora em uma das plataformas disponíveis no mercado. 

Lembre-se, para as empresas, é mais interessante que você esteja de um dos lados da moeda, portanto, quanto mais tempo você passar ali dentro, mais as plataformas vão te “afundar” neste lado e pouco a pouco você vai esquecendo que o outro lado existe simplesmente porque não chegará até você uma opinião contrária a sua. 

Esse isolamento é um dos principais motivos porque vivemos uma era de polarizações extremas. Como nós temos poder sobre que tipo de informação vamos consumir, quanto mais tempo passamos assistindo algo que nos “faça bem”, mais nos esquecemos daquilo que pode trazer um contraponto. E dessa maneira cada um vai ficando no seu quadrado, construindo muros em volta dele.

3. A ERA DAS OPINIÕES

Hoje temos uma infinidade de formatos de conteúdos em uma infinidade de plataformas. E para cada formato em cada mídia temos pessoas que gostam de expressar suas opiniões. 

Uma pesquisa feita pela Nilsen e exposta pela Folha de São Paulo e o jornal O Povo (link aqui) levantou que hoje existam 500 mil influenciadores digitais no Brasil (pessoas que tem a partir de 10 mil seguidores).

Achar um ou mais influenciadores que estejam no mesmo lado que você não é uma tarefa necessariamente difícil. Com tanta gente expressando sua opinião sem um controle claro do que está sendo dito e principalmente, sem uma opinião contrária para gerar o debate (SAUDÁVEL), é criada uma “surdez seletiva” para qualquer opinião que pode parecer levemente contrária a sua ou àquela pessoa que está falando e te influenciando. 

E AGORA? 

Com todos estes fatores influenciando, os resultados não poderiam ser diferentes. Há 3 semanas atrás, na pesquisa de intenções de voto do Datafolha (link aqui ) os dois principais candidatos (O ex-presidente Lula e o atual presidente Bolsonaro) acumulam, juntos, 75% das intenções de voto (47% para o ex-presidente e 28% para o atual presidente). Ou seja, 25% dos votos estão distribuídos entre os outros candidatos, votos brancos e quem vai anular. 

 

Para efeitos de comparação, o pleito que elegeu Bolsonaro teve, no primeiro turno, uma distribuição muito mais igualitária entre seus candidatos. 

O atual presidente tinha “apenas” 36% das intenções de votos, Fernando Haddad tinha 22% e até mesmo o candidato Ciro Gomes tinha 11% (hoje este pontua 8% em 2022). – Link para o gráfico aqui

 

Independente das discussões políticas e formas de governar, fica evidente que hoje a polarização se tornou uma realidade e que as plataformas digitais tem contribuído ativamente com ela. Seja pelo corpo político diretamente com propagandas e interações diretas nas plataformas, seja através de seus apoiadores com opiniões, vídeos e outros conteúdos que amplificam o alcance dos políticos.

 

O QUE ESPERAR LÁ NA FRENTE? 

Polarizações e radicalizações nunca foram muito saudáveis para nós, porém, será interessante analisar como os eventos futuros vão se desdobrar e como será a condução do tema político através das mídias sociais e demais plataformas. Para quem ainda está em cima do muro, brinque com o Algoritmo, fala pra ele que você gosta de um lado, volta, fala que gosta do outro. De repente você consegue convencer outras pessoas ao seu redor que a discussão é saudável e ajuda todo mundo!

Escrito por:

Henrique Della Coletta

Fundador da HD.M e especialista em Marketing Digital. Formado pela PUC – SP com pós-graduações em Marketing Digital e Gestão de Reputação na Era Digital. Apaixonado pela criatividade e por entender comportamentos sociais.

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HD.M

Marketing Digital e Conteúdo 

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